Parece que lá fora é mais noite do que cá dentro.
Não que aqui também não seja,
que tolice tal insinuação.
Mas é que noite tem combinação com o vento e céu de escuridão.
E silêncio.
Silêncio também é coisa de combinar bem com a noite.
É quando as falas adormecem,
permitindo a canção sussurrada dos seus habitantes invisíveis,
do lado de fora. Aqui dentro a intensidade noturna destoa.
O que se vê são as luzes artificiais ferindo de claridade os olhos e as vozes confusas saindo da televisão,
dizendo coisas artificiais a ninguém.
Que o que se quer, somente,
É parir indizível poesia a dizer que a noite irremediavelmente acontece para que,
cá dentro ou lá fora, perca-se de tanto sonhar, o sujeito.