quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Nesta sombra em que vivo,
Sonho que me apareceras,
Numa hora extática...
E ando a esperar-te, noite por noite...
Sonho que te hei de ver,
Todo vestido de oiro,
Com os cabelos carregados de estrelas
E as mãos enfeitadas de luas...
Sonho que desceras a ver-me,
De tanto me ouvires
Cantar e louvar
O teu nome...
Nesta sombra em que vivo,
De te evocar,
É como se já tivesses vindo...
Como se houvesse visto os teus olhos,
Que devem ser a própria alma da luz...
Como se houvesse adorado o teu coração,
Onde morrem todos os corações que viveram
E de onde nascem todos os corações...
Nesta sombra em que vivo,
Sofro por seres assim irreal,
Assim tão além do que se pode pensar...
Sofro porque nem sei
Quando haverá, nos meus olhos,
Luz com que te veja
E com que te adore... 
Nesta sombra em que vivo,
Por que me não apareces,
Numa hora extática,
Se sabes que te ando a esperar,
Noite por noite!... 


Cecília Meireles
In: Poema dos Poemas